INTRODUÇÃO
Desde os tempos antigos o ser humano está voltado à ação, e
nesses
últimos tempos, no
contexto da modernidade, o espaço predomina sobre
o tempo. Por isso, a
mensagem do quarto mandamento continua atual,
a fim de diminuir o
ativismo, e desperta o homem para o descanso.
Na aula de hoje
meditaremos a esse respeito, antes faremos uma incursão
teológica sobre o
shabat bíblico, após discorrer sobre a opção cristã pelo
domingo, faremos uma
aplicação sobre a importância do descanso.
1. O SHABAT NA BÍBLIA
O shabat bíblico é sinônimo de descanso, por isso, ao invés
de ser
traduzido para
sábado, como acontece em algumas línguas, há quem
prefira a permanência
do termo hebraico. Existiam vários shabat a
serem observados pelo
povo judeus, o shabat semanal (Ex. 16.23),
o Dia da Expiação
(Lv. 16.31; 23.32), o primeiro dia da Festa das
Trombetas (Lv.
23.24), o primeiro e o oitavo dias da Festa dos
Tabernáculos (Lv.
23.39) e o ano sabático (Lv. 25.4,5). Essa orientação
bíblica, que também
era um mandamento de Yahweh, revelava que
Deus tem consideração
tanto pelo trabalho quanto pelo descanso
(Ex. 20.11). O
fundamento para a observância do shabat está no próprio
Deus, que após ter
trabalhado, descansou no sétimo dia (Gn. 2.1-3).
O povo de Israel
deveria separar, guardar ou santificar (hb. qadash)
o shabat para o
Senhor como lembrança de que foram escravos
no Egito, e que foram
libertados pela mão poderosa de Yahweh (Dt. 5.15).
Eles foram libertos
da tirania da opressão, agora poderiam parar para
descansar, e usufruir
a providência de Deus. Essa também era
uma demonstração de
confiança no Senhor, de que o essencial
não lhes faltaria, e
que poderiam aprender a depender dEle. A observância
ao shabat era um
sinal específico para Israel, exclusivo para aquela nação,
um testemunho para os
povos (Ex. 31.13-17; Ez. 20.12,20). Jesus
reinterpretou a
observância ao Shabat, isso porque os religiosos da sua
época, ao invés de o
desfrutarem, transformaram em mero legalismo,
deturpando a essência
da instrução dada pelo Senhor (Mc. 6.31).
Mas o próprio Jesus
considerou o shabat, Ele mesmo se dirigiu nesse
dia à sinagoga (Lc.
4.16).
2. SÁBADO OU DOMINGO?
No Novo Testamento a palavra é sabaton, com o mesmo sentido
de
descanso da língua
hebraica. Os primeiros cristãos, por se tratarem de
judeus, mantinham a
observância do shabat (At 13.5, 14; 42-44; 14.1;
16.13; 17.12,16;
18.4; 19.8). Mas seguindo as instruções de Jesus,
os primeiros
cristãos, diferentemente dos religiosos da época, não eram
legalistas em relação
a esse dia (Mt. 12.9-14; Mc. 3.1-6; Lc. 6.6-11).
O princípio deixado
pelo Mestre foi o de que é sempre bom fazer
o bem no shabat (Mc.
2.27,28). Existe uma controvérsia entre os cristãos
a respeito da guarda
desse dia, alguns defendem sua permanência,
outros optam pelo
domingo. Essa opção está fundamentada no tratamento
dado por Cristo ao
shabat, bem como pelos cristãos ao longo da história.
Jesus deixou claro
que o sábado foi estabelecido por causa do homem,
e não o homem por
causa do sábado (Mc. 2.27,28). Isso quer dizer que
não estamos mais
presos à guarda de um dia específico da semana,
contanto que o
façamos para o Senhor (Rm. 14.5,6). A igreja cristã optou
pelo domingo porque
Jesus ressuscitou nesse dia (Mc. 16.9), foi o
dia em que Ele se
manifestou ressurreto (Lc. 24.13-36; Jo. 20.13-26).
O Espírito Santo
também foi derramando sobre a igreja em um domingo
de Pentecoste (Lc.
23.15-21; At. 2.1-4). Esse era o dia no qual os primeiros
crentes se reunião
para celebrar a Ceia do Senhor, pregar e coletar ofertas
(At. 20.7; I Co.
16.1,2). Há evidências históricas que comprovam a observância
do domingo, e não do
sábado pelos cristãos. Para Justino Martir, um dos
pais da igreja, “o
domingo é o dia em que todos temos nossa reunião
comum, porque é o
primeiro dia da semana, e Jesus Cristo, nosso Salvador,
neste mesmo dia
ressuscitou da morte”. De modo que, conforme explicitou
Paulo: “ninguém,
pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de
festa, ou lua nova,
ou sábado, porque tudo isso em sido sombra das coisas
que haviam de vir;
porém o corpo é de Cristo” (Cl. 2.16-19).
3. O PRINCÍPIO PERMANECE
Ainda que não estejamos mais presos à guarda de um dia da
semana, seja
ele o sábado e/ou
domingo, o princípio do shabat bíblico permanece.
Nas palavras da
Confissão de Fé de Westminster, santificar o shabat é “um
preceito positivo,
moral e perpétuo”. Tomando os devidos cuidados, e
evitando legalismos,
é necessário considerar o princípio do descanso.
Não podemos esquecer
que o shabat “foi feito por causa do homem”
(Mc. 2.27). Isso que dizer que precisamos dele, nenhum homem
é uma
máquina, carecemos de
descanso. A era da industrialização transformou
o trabalho em
tirania, e nesses últimos anos, por causa do consumismo
desenfreado, muitas
pessoas querem ter cada vez mais, e valorizam o
tempo cada vez menos.
O homem moderno está obcecado por espaço,
quer conquistar tudo
o que for possível, esquecendo-se que o tempo é
muito mais
importante. Como estabeleceu o Senhor: “seis dias trabalharás
e farás toda a sua
obra” (Ex. 10.9), mas é preciso santificar ou separar o
shabat, o descanso
necessário para a alma e para o corpo. Ninguém
deve ser escravo do
trabalho, fomos libertados da angústia da ansiedade.
Devemos trabalhar
para ter o suficiente, e com isso vivermos contentes,
é preciso ter cuidado
para não se tornar escravo da ganância (I Tm. 6.6-8).
Ao invés do nos
deixar conduzir pelo espírito desta era, que nos lança na
tirania do consumo, e
nos conduz à preocupação, devemos aprender a confiar
mais em Deus (Mt.
6.31-34). Em Cristo, temos agora um descanso, Ele é
o nosso shabat, por
causa do trabalho dEle, podemos agora descansar
(Hb. 4.9,10).
CONCLUSÃO
Há quem diga que não devemos parar para descansar, existem
até os que
citam as Escrituras
indevidamente (Mq. 2.10). Mas o texto precisa ser
compreendido em seu
contexto, de fato não podemos descansar no
momento que devemos
agir, mas isso não significa que devemos nos
entregar ao ativismo.
É necessário reconhecer que tudo tem o seu tempo
determinado, e que há
tempo para todo propósito debaixo do céu,
inclusive para o
descanso (Ec. 3.1).
BIBLIOGRAFIA
HOBBERT, J. C. The ten commandments: a preaching commentary.
Nashville: Abingdon
Press, 2002.
PACKER, J. I. Keeping the ten commandments: Illinois:
Crossway Books,
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