INTRODUÇÃOA vida “debaixo do sol” está cheia de paradoxos, e dependendo do ponto de vista, alguém pode concluir que nada faz sentido. Ao constatar a futilidade da vida, o autor do Eclesiastes pondera a respeito do que realmente vale a pena. Na aula de hoje mostraremos que, ainda que tudo aos olhos humanos seja vaidade, podemos tirar algum proveito da existência. Destacamos, inicialmente, a necessidade de viver pela fé, e mesmo de aproveitar a vida, ciente das responsabilidades que temos diante de Deus e do próximo. Ao final mostraremos a necessidade de, em todas as circunstâncias, depender do Senhor e confiar nEle.
1. VIVENDO PELA FÉSalomão começa a concluir sua análise da vida, e como um homem da assembleia, não se esquece de fazer aplicações. Aponta a importância de se viver pela fé, de lançar o pão sobre as águas. O sábio hebreu estava acostumado às transações comerciais, principalmente através do uso de navios (I Rs. 10.15,22). Aqueles que se aventuram no comércio sabem o quanto essa profissão é arriscada. Quem comercializa pode colher muitos frutos do seu trabalho, mas pode também perder tudo o que tem. Ninguém sabe o que acontecerá no futuro, é viável que se tome as devidas precauções para evitar surpresas. Mas não podemos ter garantias em relação aos nossos investimentos (Ec. 1.2,5,6). O agricultor é exemplificado como alguém que deposita as sementes no solo, na esperança de que, no futuro, venha a colher frutos. Essa é uma instrução do sábio para evitar o marasmo, a falta de tomada de decisões. Não podemos desperdiçar as oportunidades, para tanto precisamos estar atentos às circunstâncias, a fim de não deixar passar a porção que nos é destinada. Todos nós gostamos de comodidade, ninguém está disposto a se aventurar, mas a vida nos convida a arriscar-se. Ninguém pode determinar com precisão quais são os desígnios de Deus, por esse motivo, devemos ter coragem, e agir no momento que for requerido. Paulo orienta os crentes de Éfeso a remirem o tempo, essa expressão tem uma conotação financeira (Ef. 5.15-17). Diante dos dias maus, não podemos fugir da responsabilidade, antes fazer o que tem de ser feito. Tal como o lavrador da terra, não podemos deixar a chuva passar, olhar para o céu é precaução, até mesmo tentar antecipar os acontecimentos, mas uma vida pautada na fé demanda coragem. Não na própria fé, mas em Deus, que é a razão da nossa confiança, pois Ele é quem dará a colheita em tempo oportuno, de acordo com Sua soberana vontade (G. 6.8,9; Sl. 126.5,6; Os. 10.12).
2. APROVEITE A VIDAAinda que a vida pareça não ter sentido, e que tudo pareça ser tão fugaz, não podemos fugir da condição existencial. Antes precisamos atentar para a máxima: cape diem (aproveite o dia), não como as pessoas que não conhecem a Deus. O ser humano tem uma tendência ao exagero, isto é, aos extremos. Existem alguns que são legalistas, considerando tudo pecado, repreendendo os momentos de alegria. Outros levam para o outro lado, e acham que podem fazer tudo, nada consideram pecado, e se entregam à vida dissoluta. O autor de Eclesiastes nos conduz a um ponto de equilíbrio, ao reconhecimento de que não é pecado regozijar-se, afinal, podemos nos regozijar no Senhor (Fp. 4.4,5). É maravilhoso acordar todas as manhãs com sentimento de gratidão a Deus por tudo que Ele nos tem dado (Ec. 11.7,8; Dt. 33.25). Salomão demonstra preocupação com os mais jovens, que podem desfrutar com maior intensidade a vida. De fato, o período da juventude é caracterizado pela busca do prazer, em algumas situações, hedonisticamente. Os jovens devem estar atentos aos excessos, precisam guardar o coração e os olhos, para não pecarem contra Deus (Nm. 15.39; Pv. 4.23; Mt. 5.27-30), observarem as orientações da Palavra de Deus (Sl. 119.9,11). A alegria da juventude não deve ser desprezada, tenhamos cuidado para não contagiá-los com atitudes pessimistas. Antes que o sol se ponha, os jovens podem desfrutar do amanhecer das suas vidas. Por outro lado, eles devem estar atentos às suas responsabilidades, e terem cuidado para não destruírem o futuro. Muitos jovens estão perdendo suas vidas ao se entregarem ao mundo das drogas, e à promiscuidade sexual. Por não pensarem antes, estão colhendo os frutos amargos das decisões precipitadas. As consequências, não poucas vezes, são drásticas, e em alguns casos, irreparáveis. A descoberta de prazeres que agregam valores deve ser incentivada aos jovens, tais como ouvir música de qualidade, ler bons livros e devotar-se às atividades que resultem em amadurecimento intelectual e espiritual.
3. DEPENDA DO SENHORAs instruções do sábio, autor de Eclesiastes, não devem motivar à autossuficiência. Muitas pessoas, tomadas pelo pragmatismo moderno, acham que podem fazer tudo, de que não existem limites. Essa onda motivacional pode ajudar àqueles que perderam o interesse pela busca de ideais. Mas é preciso que o remédio seja dado na dose certa, caso contrário, recairemos em mero ativismo, e em algumas situações, em superdimensionamento das possibilidades. Se por um lado algumas pessoas ficam inertes diante da necessidade de tomada de decisões, por outro, há os que se precipitam e agem sem refletir a respeito das consequências. Jesus nos ensinou a planejar antes de realizar qualquer empreendimento (Lc. 14.28-30). É uma demonstração de sabedoria avaliar os prós e contras antes de investir em determinado negócio, e também certa dose de realismo, para não se frustrar. Há crentes que, instigados pela teologia da ganância, se lançam em negócios, sem ter capital para sustentar o empreendimento, no final se decepcionam. Alguns recebem mensagens de supostos profetas que os impulsiona para fazerem negócios que não têm o respaldo divino. Mais triste ainda é ver muitos que se decepcionam não apenas com esses “profetas”, mas também com o próprio Deus, culpando-O pelo descumprimento da “sua” palavra. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, mas das coisas que se não veem, aqueles que querem agradar a Deus devem ter fé nEle (Hb. 11.1,6). Mas essa fé não é mero pensamento positivo, uma vontade particular de que algo se concretize, de acordo com nossos desejos (Tg. 4.3). Trata-se de uma fé para além das circunstâncias, mesmo diante das perseguições, não é uma fé empresarial. É a fidelidade, resultante da produção do fruto do Espírito na vida do crente, uma disposição incondicional para seguir ao Senhor (Gl. 5.22). Aprendamos a pedir ao Senhor o pão nosso de cada dia (Mt. 6.11), a viver não pelo que vemos (II Co. 5.7), mas na esperança daquilo que o olho não viu (I Co. 2.9), cientes de que sem Jesus nada podemos fazer (Jo. 15.5).
CONCLUSÃOA vida do cristão não é destituída de significado, fazendo referência a um dos personagens de Shakespeare, “não é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum”. Deus se importa com cada um de nós, Ele se interessa pelas nossas necessidades, não nos abandonou (Mt. 6.25-32; Hb. 13.5). Devemos fazer a parte que nos compete, agirmos com diligência (Mt. 10.16), mas também confiar na providência do Senhor, pois como ressaltou Salomão, o cavalo se prepara para a batalha, mas a vitória vem do Senhor (Pv. 21.31).
Fonte:Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
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